Briga em baile funk pode ter motivado assassinato de mulher trans em Belo Horizonte

Crime ocorreu na Avenida Raja Gabaglia, na Região Centro-Sul da capital mineira.

Execução em plena luz do dia

Uma briga durante um baile funk pode ter sido o estopim para o assassinato de Jeane Lui, mulher trans de 32 anos, morta a tiros na madrugada deste domingo (5/1), na Avenida Raja Gabaglia, bairro Luxemburgo, em Belo Horizonte.

Conhecida nos bailes funk como “Jeje Sucesso”, Jeane foi executada por dois homens em uma motocicleta. Segundo testemunhas, o crime foi premeditado: enquanto estava de costas, Jeane foi surpreendida por um atirador, que efetuou o primeiro disparo. Mesmo caída, o agressor continuou atirando, fugindo em seguida com um comparsa.

Uma cena brutal e sem pistas

A Polícia Militar (PM) recolheu no local mais de dez cápsulas de munição de grosso calibre, mas a ausência de câmeras de segurança operantes dificulta a identificação dos suspeitos. A vítima tinha passagens por tráfico de drogas, lesão corporal e agressão, e havia deixado a prisão no ano passado.

A Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) investiga o caso e aposta nos depoimentos de testemunhas e na análise balística para identificar os responsáveis.

Uma vida marcada pela luta e alegria

O crime aconteceu próximo à quadra da escola de samba Cidade Jardim, onde Jeane era membro desde 2016. Para os frequentadores do espaço, ela era uma figura indispensável.

— Ela era o nosso ‘sucesso’, transformava qualquer ambiente. Foi uma coisa covarde e devastadora — lamenta Alexandre Silva Costa, presidente da escola de samba.

Jeane era descrita como alegre, determinada e apaixonada pelo samba. Apesar das dificuldades que enfrentou como mulher preta, trans e vinda da periferia, nunca perdeu a energia contagiante que a tornou querida pela comunidade.

— Jeane começou perdendo na vida: preta, trans, favelada. Mas nunca deixou de sorrir. Ela chamava todo mundo de ‘sucesso’. O pessoal ficava encantado com ela — recorda Alexandre.

Um caso emblemático de violência contra pessoas trans

O assassinato de Jeane expõe a realidade alarmante da violência contra pessoas trans no Brasil. Segundo o último dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), divulgado em janeiro de 2024, Minas Gerais ocupa o 5º lugar no ranking de estados com mais registros de violência contra a população trans.

Embora a polícia ainda não tenha confirmado a motivação, há suspeitas de que o crime possa ter sido um caso de transfobia, um problema estrutural que ainda faz inúmeras vítimas no país.

Para a comunidade que Jeane amava e fazia sorrir, sua ausência será sentida profundamente. A Cidade Jardim perdeu mais do que uma integrante: perdeu uma alma vibrante que fazia da vida, mesmo em meio aos desafios, um espaço de celebração.

By Ritmo Funk

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